sábado, 25 de abril de 2009

25 de Abril


Para celebrar o 35º aniversário do 25 de Abril apeteceu-me contar uma história que a minha avó materna me contou uma vez, estavamos nós os dois na janela da sala dela, janela que dava para a Sé e para as traseiras do Aljube.
A história que ela me contou foi a da célebre fuga do Aljube levada a cabo por um grupo de presos políticos através de uma janela da cadeia de onde saltaram para os telhados dos prédios vizinhos passando de prédio em prédio até junto de um cúmplice, que vivia numa água furtada ou num dos últimos andares de um desses prédios, chegando assim, e finalmente, à rua.
Quando ela me contou
este episódio o 25 de Abril tinha sido há apenas 3 ou 4 anos e eu teria os meus 5 ou 6 anos. Para um miúdo daquela idade o facto de haver uma prisão (que por acaso já tinha sido encerrada há muito) ao pé da casa da avó e de haver presos a fugir de lá era simplesmente aterrador. Para mim, presos eram só os homens maus que roubavam e faziam outras maldades. E mesmo que soubesse que uns anos antes podia haver homens e mulheres presos por dizerem o que pensavam dificilmente compreenderia o que isso significava. Só anos mais tarde compreendi o que se tinha passado naquela noite de fuga e o que se passava naquela prisão.
E também só então compreendi a alegria incontida com que a minha avó me contou a história daquela fuga. E compreendi também porque fugiam aqueles homens e porque, do lado de fora, havia sempre quem os ajudasse e se regozijasse com a sua fuga, tal como o fizeram, pela calada, muitos dos moradores daqueles prédios quando, na manhã do dia seguinte, viram os indícios da fuga.
Fica aqui a minha homenagem a todos os que foram perseguidos, presos e torturados nessa idade das trevas.
Haverá melhor maneira de comemorar o 25 de Abril que esta?

Sem comentários:

Enviar um comentário