terça-feira, 9 de setembro de 2008

Viagem a Budapeste


No mês passado fui passar uns dias a Budapeste em viagem de lazer (com ‘z’ e não com ‘s’ como vejo muitas vezes). Fiquei numa casa emprestada situada a alguns kms do centro da cidade o que implicava uma viagem de cerca de 30 minutos em transportes. Felizmente que não estava em Lisboa!
Começo por apresentar os transportes públicos de Budapeste. Existe uma única empresa, a BKV, que gere o metro, rede de eléctricos, rede de autocarros e rede de trolleis. Para além desta existe uma outra empresa que, creio eu, será subsidiária da primeira (a HÉV) que detém algumas linhas de comboios suburbanos. Para além destas linhas a empresa nacional MAV (equivalente à CP) tem mais algumas ligações deste género a partir de Budapeste (embora com percursos maiores). Para se usar tudo isto (excepto os serviços da MAV) basta um único bilhete de dia ou passe de uma semana. No caso dos comboios suburbanos da HÉV os títulos de transporte indicados anteriormente apenas são válidos nos percursos intra-muros (é o equivalente ao antigo L dar para viajar na CP entre Algés e C.Sodré, por exemplo), sendo necessário pagar um prolongamento de percurso para viagens para fora de Budapeste
Em termos de organização de toda esta rede as coisas passam-se de uma forma bem estudada e cuidada, existindo 3 níveis de transportes: num primeiro nível encontra-se o metro, com as suas paragens bem espaçadas, permitindo um serviço rápido (tipo expresso) desde as zonas limítrofes da cidade até ao centro; num segundo temos os eléctricos que têm paragens relativamente espaçadas, mas muito mais frequentes que no metro, e que acabam por fazer um serviço de metropolitano de superfície ligeiro; por último temos os autocarros e trolleis que fazem serviços mais localizados, com muito mais paragens que nos outros dois níveis, e que permitem ligações entre as zonas não servidas pelo metro e/ou eléctrico e estes 2 transportes.
Com este sistema não existem problemas nem preconceitos quanto à “sobreposição” quer de meios quer de carreiras, havendo corredores onde os 3 níveis convivem salutarmente, sendo aí possível verificar muito bem a estratificação por mim descrita relativamente ao número de paragens.
O material é, geralmente, antiquado, raramente existindo pisos rebaixados ou ares condicionados, sendo a maioria dos autocarros e trolleis Ikarus (a dar um ar ainda de Bloco de Leste à cidade) e todas as composições do metropolitano (excepto na linha 1, por motivos históricos e técnicos) de fabrico soviético, idênticas às do metro de Moscovo, e com direito a placa de construtor em cirílico, onde apenas se percebe o famoso “CCCP”. O barulhinho destas unidades é algo nostálgico pois lembra o som das defuntas ML-7 do Metro de Lisboa!
Outra coisa interessante era o pessoal: aparentemente a idade não é impeditivo de se ter um bom serviço! Havia tripulantes de todas as idades!
Como ia com os meus sobrinhos deu para ver que o povo húngaro tem muito mais educação cívica que o português, havendo sempre quem se levantasse para que as crianças se sentassem (mesmo quando estas teimavam que queriam ir de pé e aos tombos!).
As minhas deambulações diárias iniciavam-se a 2 quarteirões de distância da casa onde fiquei, numa paragem das carreiras de autocarros 66 e 123, as quais me levavam a um terminal de transportes onde apanhava a linha 3 do metro que, por sua vez, me levava ao centro da cidade. Para além deste percurso “obrigatório” fiz muitas outras viagens noutros percursos.
Em nenhuma das vezes estive mais de 10 minutos à espera de transporte e na única vez que estive esse tempo tal deveu-se à hora “tardia” (20:00, o que para os parâmetros de Budapeste corresponde às 21 ou mesmo 22 de cá) e mesmo aí foi por ter perdido um eléctrico (ainda o vi a sair da paragem).
Volto para Lisboa e caio na realidade tuga. Autocarros modernaços conduzidos por carinhas larocas, uma rede de eléctricos para turista consumir, um metropolitano cheio de arte, mas poucos comboios e uma rede de comboios suburbanos com uma linha de cintura que é percorrida na totalidade apenas aos dias de semana e apenas por um comboio por sentido de 30 em 30 minutos. A única coisa que existe em quantidade são os títulos de transporte e as empresas que gerem (?) tudo isto!
Depois do regresso já andei de autocarro umas 4 ou 5 vezes (uma monstruosidade para os meus actuais parâmetros) e lá estive sempre mais de 10 minutos parado em paragens à espera. Lá vi terminais estupidamente pensados e planeados, como o do C.Sodré, onde carreiras como a 781 e a 782, que têm boa parte do percurso em comum, têm as paragens numa tal disposição que acabam por ficar com as paragens do terminal em dois extremos com uma outra paragem pelo meio (só usada pelo 28 no serviço nocturno). Para compensar, carreiras que nada têm a ver (em termos de percursos) são até capazes de partilhar as paragens. Lá senti as agruras de quem vem da Linha de Cintura e tem que se deslocar para a de Cascais em Alcântara, agora com a ligação ainda pior que antes, já que estão a desmantelar a passadeira que ligava essas duas linhas.
E “cá se vai andando com a cabeça entre as orelhas” e com o Terreiro do Paço a fechar aos Domingos para que “as pessoas andem de transportes” que por acaso até nem existem, mas que, quando os há, circulam forrados de cartazes a auto-elogiarem-se (tal como os sites, principalmente o da Carris).
Maldita decisão que eu tomei há 9 anos quando deixei de conduzir por não gostar de o fazer.
Já agora, faz hoje 2 anos que a diarreia resultou na 1ª fase da Rede 7 da Carris!

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