Nesta altura do ano recordo-me sempre de uma história que o meu avô materno me contou certa vez.
É uma história ligada à História e passou-se em Santa Eulália, aldeia do concelho de Elvas, no final dos anos 1930, em plena guerra civil espanhola e precisamente no Carnaval.
Aqueles eram tempos duros, tempos em que as pessoas aproveitavam todas as festividades que "apareciam no calendário" para atenuar a rudeza da vida. Por cá viviam-se os primeiros anos do Estado Novo e a poucos quilómetros dali, do outro lado do Rio Caia, morria-se pela defesa da democracia.
Badajoz ficou muito cedo nas mãos dos nacionalistas de Franco e esse facto, juntamente com a existência de uma linha ferroviária que ligava a Portugal (a Linha do Leste), fez com que essa cidade extremenha se tornasse numa das portas de chegada dos abastecimentos para as forças franquistas.
Ora, num dos muitos comboios que circularam nesses anos entre Portugal e Espanha ocorreu um incêndio num ou vários vagões, coisa muito comum naqueles tempos do locomotivas vaporosas e de vagões de madeira, precisamente no ponto em que a Linha do Leste passa junto a Santa Eulália. Desconheço se os vagões foram esvaziados pelos ferroviários numa tentativa de salvar o máximo possível de mercadorias ou se foi a população que aproveitou a confusão para se dedicar ao saque, mas o que é certo é que houve caixas que acabaram fora da composição.
Numa dessas caixas vinham balões, o que até dava jeito, já que, e como disse, se estava no Carnaval e os balões sempre serviam para enfeitar o local do bailarico. Em menos de nada toda a gente andava de balão na boca, desde o bebé do jornaleiro à senhora do lavrador. Aquilo era uma festa. O que era estranho eram aqueles balões. Primeiro para quê mandar balões para uma guerra e depois qual seria a razão para que aqueles balões não fossem arredondados, como os outros, mas assim para o cilíndrico? E qual a razão de aqueles balões terem que vir untados de pó-de-talco? Que raio de borracha seria aquela?
Como já devem ter calculado, o conteúdo daquela caixa não era propriamente composto por balões, mas a ignorância da maioria daquela gente quanto a métodos anti-concepcionais era grande. E assim, lá andavam todos a soprar no balão, para gáudio e chacota dos poucos que sabiam do que se tratavam aqueles estranhos balões. E quando o alguém lhes explicou o que eram aqueles "balões" não valia de nada fingir que "ainda bem que eu não caí nessa": é que o tal pó-de-talco que mantinha os "balões" em condições marcava de forma indiscutível quem tinha andado com a boca naquilo!
Depois deste episódio Santa Eulália terá ficado conhecida em toda a Linha do Leste como a "Terra dos Balões", pelo menos enquanto a memória o permitiu.
Outros tempos, em que tudo servia para atenuar a dureza da vida daquela zona, marcada pelo Estado Novo e pelos ecos dos bombardeamentos que chegavam do outro lado da fronteira, autêntico ensaio geral daquilo que viria a acontecer pouco tempo depois no resto da Europa.
É uma história ligada à História e passou-se em Santa Eulália, aldeia do concelho de Elvas, no final dos anos 1930, em plena guerra civil espanhola e precisamente no Carnaval.
Aqueles eram tempos duros, tempos em que as pessoas aproveitavam todas as festividades que "apareciam no calendário" para atenuar a rudeza da vida. Por cá viviam-se os primeiros anos do Estado Novo e a poucos quilómetros dali, do outro lado do Rio Caia, morria-se pela defesa da democracia.
Badajoz ficou muito cedo nas mãos dos nacionalistas de Franco e esse facto, juntamente com a existência de uma linha ferroviária que ligava a Portugal (a Linha do Leste), fez com que essa cidade extremenha se tornasse numa das portas de chegada dos abastecimentos para as forças franquistas.
Ora, num dos muitos comboios que circularam nesses anos entre Portugal e Espanha ocorreu um incêndio num ou vários vagões, coisa muito comum naqueles tempos do locomotivas vaporosas e de vagões de madeira, precisamente no ponto em que a Linha do Leste passa junto a Santa Eulália. Desconheço se os vagões foram esvaziados pelos ferroviários numa tentativa de salvar o máximo possível de mercadorias ou se foi a população que aproveitou a confusão para se dedicar ao saque, mas o que é certo é que houve caixas que acabaram fora da composição.
Numa dessas caixas vinham balões, o que até dava jeito, já que, e como disse, se estava no Carnaval e os balões sempre serviam para enfeitar o local do bailarico. Em menos de nada toda a gente andava de balão na boca, desde o bebé do jornaleiro à senhora do lavrador. Aquilo era uma festa. O que era estranho eram aqueles balões. Primeiro para quê mandar balões para uma guerra e depois qual seria a razão para que aqueles balões não fossem arredondados, como os outros, mas assim para o cilíndrico? E qual a razão de aqueles balões terem que vir untados de pó-de-talco? Que raio de borracha seria aquela?
Como já devem ter calculado, o conteúdo daquela caixa não era propriamente composto por balões, mas a ignorância da maioria daquela gente quanto a métodos anti-concepcionais era grande. E assim, lá andavam todos a soprar no balão, para gáudio e chacota dos poucos que sabiam do que se tratavam aqueles estranhos balões. E quando o alguém lhes explicou o que eram aqueles "balões" não valia de nada fingir que "ainda bem que eu não caí nessa": é que o tal pó-de-talco que mantinha os "balões" em condições marcava de forma indiscutível quem tinha andado com a boca naquilo!
Depois deste episódio Santa Eulália terá ficado conhecida em toda a Linha do Leste como a "Terra dos Balões", pelo menos enquanto a memória o permitiu.
Outros tempos, em que tudo servia para atenuar a dureza da vida daquela zona, marcada pelo Estado Novo e pelos ecos dos bombardeamentos que chegavam do outro lado da fronteira, autêntico ensaio geral daquilo que viria a acontecer pouco tempo depois no resto da Europa.
ficou conhecida como a terra do assopra e não do balão.
ResponderEliminarAgradeço a este anónimo a correcção feita. De facto tinha ideia de o meu avô me ter dito "terra dos balões", mas é possível que a minha memória (ou até mesmo a dele) tenha atraiçoado a verdade sobre o epíteto aplicado a Santa Eulália.
ResponderEliminar