Estou hoje a sofrer as consequências da greve de ontem.
Para além das dores nas pernas, conseguidas com a caminhada desde a Estação de Campolide até Xabregas, ainda tenho que levar com as acusações de "tenho o que mereço" por parte de quem, ao contrário de mim, optou por fazer greve.
E digo "optou", não só por ter sido isso o que todos fizemos, optar por uma coisa ou por outra, mas principalmente para frisar que sendo a greve um direito e não um dever, a mesma não pode, nem deve, ser imposta à força a quem não pretenda fazê-la, independentemente dos motivos que levaram a essa decisão.
Para além disso, e aqui entro na parte mais discutível da questão, neste momento da minha vida não sei para que servem as greves! Servem para que se lute pela defesa dos direitos dos trabalhadores? Ou para que os/alguns sindicatos demonstrem publicamente a força que têm?
E esta dúvida nasceu em mim porque nos dias que antecedem as greves somos sempre inundados por apelos da parte dos sindicatos para que participemos nas greves por eles marcadas, sendo nesses apelos passada a ideia de que só assim se consegue defender os trabalhadores e os seus direitos. Contudo, noutras situações, como a que ocorreu no dia de Carnaval, não vejo os sindicatos actuarem tal como tinham obrigação de o fazer, pautando-se a sua conduta por uma passividade completamente incompreensível.
No caso da notícia do DN (e penso que do seu "irmão" JN), nunca vi em lado nenhum uma resposta àqueles "factos" vinda de qualquer estrutura organizada de "defesa" dos trabalhadores, fossem sindicatos ou comissões de trabalhadores, posição que, a meu ver, acabou por dar razão a quem a não tinha. As únicas vozes de desagrado e repulsa que surgiram na imprensa foram de trabalhadores a título particular, como aliás foi divulgado pelo Provedor do Cliente do DN.
Assim, quando me criticam por não ter feito greve ontem (e aos outros que tomaram a mesma opção) e que por isso perco "o direito de andar a criticar o governo nos outros dias" (sic), apenas lhes respondo que uma coisa é defender aquilo em que acredito, nomeadamente os direitos e garantias a que tenho direito, seja através do estipulado na lei, seja através de contratos assinados, outra é ser peão de quem se arvora em defensor dos trabalhadores e dos seus direitos, incitando-os a fazer greves (que na prática e para o trabalhador significam a perda de um dia de salário e trabalhar a dobrar no dia seguinte para recuperar o trabalho em atraso) mas que se cala quando não se deve calar.
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