A história do Leandro, o menino que preferiu atirar-se ao rio para fugir de quem o maltratava, choca-me, como choca a todos.
Não conheci o Leandro, mas imagino-o como uma criança querida pela família, com uma infância feliz, mas que teve a infelicidade de na sua pré-adolescência ter-se cruzado com um bando de rufias, organizados num proto-gangue mafioso e que infernizaram a vida de Leandro (e de quantos mais?) até ao ponto deste ter preferido acabar com tudo da pior forma.
Só posso imaginar o que terá sido a vida daquele rapaz que nunca chegará a ser homem nos últimos meses da sua vida. Segundo os jornais há um ano Leandro foi internado devido a violência a que havia sido sujeito pelos, muito provavelmente, mesmos agressores. E há quanto tempo duraria isto quando ele foi internado?
Ao ler a história de Leandro recordo-me do meu 7º ano, altura em que também eu tive a infelicidade de ter visto a minha vida invadida por dois brutamontes que me infernizaram a vida, um deles que já me conhecia e que de um momento para o outro passou de amigo a ser execrável e que, dos dois, era o pior. Nunca percebi o que lhes alimentava tal ódio contra mim, mas a sua actuação teve um efeito tremendo em mim. O meu interesse pela escola e por tudo o mais desvaneceu-se. Os domingos à noite eram uma aflição por antecipação do que viria a seguir. Os meus pais preocuparam-se e eu fingia, fugia e escondia.
Ao ler a história do Leandro e ao recordar-me das minhas próprias memórias só consigo imaginar e se calhar até mesmo sentir o que o Leandro sentiu nos últimos meses e o que a sua família sofreu, sofre e sofrerá, enquanto os brutamontes que o atormentaram ficarão, muito provavelmente, incólumes a tudo isto.
O Leandro atirou-se ao rio não só para fugir de um grupo de imbecis sem qualquer préstimo, mas também para se proteger de uma sociedade que, desde o Conselho Directivo à Associação de Pais, passando pelos contínuos, nunca viram, nunca ouviram e nunca denunciaram.
Quantos Leandros haverá ainda por aí?
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