Foi há 50 anos que pela primeira vez o Metro de Lisboa circulou comercialmente, na sua famosa linha em 'Y' dos Restauradores à Rotunda (actualmente Marquês de Pombal) bifurcando aí para Sete Rios (a actual Jardim Zoológico) e Entrecampos.
Este 'Y' fazia parte do 1ª escalão da 1ª fase da rede do Metro lisboeta, fase essa dividida por mais dois escalões, sendo que desses dois escalões apenas o 2º foi sendo concretizado ao longo dos 13 anos, tendo sido concluído já em 1972, quando os carris chegaram finalmente a Alvalade.
O 3º escalão dessa primeira fase nunca viu (nem nunca verá) a luz do dia (mesmo sendo em túnel): consistia numa linha paralela à margem do Tejo de Alcântara à Madre de Deus. Para além dos terminais teria estações na Rocha (para servir a estação marítima? Provavelmente), Santos, Conde Barão, Cais do Sodré, Munícipio, Rossio (ligação á linha do 1 e 2º escalões), Madalena, Alfândega, Santa Apolónia e Barbadinhos.
Em fases seguintes a rede expandir-se ia para norte, a partir de Sete Rios e de Entrecampos, para leste, em direcção aos Olivais, a partir da Madre de Deus e ganharia ainda uma terceira linha, a fazer lembrar uma outra anunciada há poucos anos - a das Colinas - que partiria da Madre Deus, cruzaria o 'Y' nos Anjos e na Rotunda, seguiria para o Rato e curvaria em direcção ao rio, ligando-se novamente á linha marginal no Conde Barão. No plano não eram indicadas outras estações intermédias.
A tal linha do 3º escalão não deixa de ser curiosa pelas suas características, mas também pela imagem que nos dá da cidade de Lisboa de há 50 anos. Hoje em dia quem se lembraria de fazer uma linha de metro com estações no Conde Barão ou nos Barbadinhos? Há 50 anos estas eram zonas bastante populosas (principalmente o Conde Barão), situação que nada tem a ver com o que por lá se passa actualmente.
Também é notória a prática, comum nos primeiros 30 anos do Metro, de não haver ligação entre os vários meios de transporte. A nascente da Praça do Comércio/Baixa, a linha tinha uma estação na Madalena (onde ficaria? Junto à Rua da Alfândega, numa posição similar à do lado poente, no Munícipio?), mas não tinha nenhuma junto à Estação do Sul e Sueste (nem sequer passava lá perto). Aparentemente era mais importante dar ligação aos navios que vinham de terras distantes (na Rocha) do que aos da CP que faziam ligação aos comboios que serviam todo o Alentejo (excepto parte do distrito de Portalegre) e Algarve.
E, claro, que a seguir podemos entrar no campo da "ficção urbana". Como se teria desenvolvido a cidade se essa tal linha tivesse avançado? Toda a linha servia zonas que estão actualmente moribundas e à espera da concretização dos muitos planos de desenvolvimento urbano impostos pela CMLisboa, os quais nem fazem nem deixam fazer.
Num dos troços que acabou por ser construído, mas já noutros contexto e linha, a estação "Município" acabou por ser deslocada mais para norte, ficando no centro da Baixa e com ligação via escadas rolantes ao Chiado.
Para o outro lado também o Metro acabou por chegar a Santa Apolónia, mas, tal como aconteceu com a ligação ao Cais do Sodré, em condições completamente diferentes daquelas que os primeiros projectos previam. A estação "Madalena" acabou por ficar mais a sul, junto ao rio, mas sem fazer, para já, uma boa ligação à Estação do Sul e Sueste, também ela num estado lastimável, e a da Alfândega nunca apareceu (curiosamente no projecto inicial da actual linha para Santa Apolónia chegou a estar prevista uma estação intermédia entre esta e o Terreiro do Paço).
Os Olivais, que segundo este planos seriam servidos mais tarde por esta linha, acabaram por ser servidos, tangencialmente, a partir de 1998, mas por uma linha que nem sequer era sonhada nos sonhos mais bizarros dos primeiros planeadores.
E era esta a grande rede prevista pelo Metro de Lisboa para a cidade no final da década de 1950, início da de 1960.
Como teria sido o desenvolvimento da cidade se ela se tivesse concretizado?
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