Quando escrevi o "Coisas de outros tempos" perguntaram-me se eu ainda me lembrava dos autocarros de 2 pisos. Então não haveria de me lembrar? Não sei se me lembro deles por estar a ficar velho (ou já estarei velho?) ou se por eles terem durado até muito tarde (prefiro a segunda opção).
Na altura respondi que os AECs de cabine à frente andaram na minha zona em serviço regular na carreira 39 até Dezembro de 1987, tinha eu 15 anos. Nessa altura, quando a carreira 39 foi automatizada, foram substituídos pelos Daimler, ainda de 2 pisos, mas com um desenho e construção mais modernos, com motor atrás, o que permitia o aumento da altura útil dos autocarros, já que deixava de haver veio de transmissão a percorrer quase todo o autocarro até ao eixo traseiro. Estes andaram em serviço regular na 39 até 1993 ou 1994. Tanto uns como outros ainda circularam mais uns tempos depois de sairem do serviço regular como reforço de algumas carreiras às horas de ponta.
Quando andava na universidade e vinha das aulas, já o 39 ia apenas até aos Restauradores, os autocarros que estavam geralmente "à minha espera" no terminal eram o 837 e o 838. Foi para mim uma emoção quando, da primeira vez que visitei o Museu da Carris, revi o 837. Aquele era um dos "meus" autocarros! Subi logo para o autocarro (apercebendo-me imediatamente daquele estribo partido) e fui para o piso de cima, segundo banco a contar da escada, do lado do motorista. Era esse o "meu" lugar.
Durante os quase 3 anos que estes autocarros fizeram o percurso entre Marvila e os Restauradores existiu um tronco de uma árvore no primeiro acesso entre a faixa lateral e a central da Avenida da Liberdade onde os autocarros invertiam para voltar a Marvila e que ficava, invariavelmente, no caminho dos autocarros. De tal forma a pancada era forte que a maioria dos autocarros que andavam na 39 tinham o tejadilho do lado direito algo amarrotado. Era engraçado quando entravam não-habitués no 39 e iam logo para os lugares da frente do piso de cima. Quando o autocarro dava a cacetada no tal tronco encolhiam-se todos e numa ocasião chegaram a sair daquele lugar e foram mais para trás! Aquele tronco acabou por ser cortado para facilitar a curva aos autocarros poucas semanas antes deles serem substituídos pelos Volvos B59s (os "laranjas").
Andar naqueles autocarros era giro. As últimas viagens do 39 antes da recolha eram uma festa, com o autocarro a percorrer a mal empedrada Infante Dom Henrique pela faixa da esquerda a ultrapassar tudo e todos. Quem viajava lá em cima mesmo sentado tinha que se agarrar bem! Depois havia as curvas de Xabregas para entrar e sair da Rua da Manutenção. Nunca "peguei" num autocarro daqueles, mas pelo esforço demonstrado pelos motoristas para virarem a direcção naquelas curvas via-se que ela não era nada leve. Para compensar tinham uma caixa semi-automática muito útil nas reduções quando era para "travar a sério"!
No Verão os AECs tinham sempre o problema de aquecimento do motor. Em todos os pontos onde havia expedidores da Carris lá havia o famoso "regador" de folha em cor verde para meter água naqueles sequiosos motores. Para abrir a tampa muitas vezes era usada a chapa do autocarro (aquela plaquinha de madeira que tinha o número da carreira seguido do número daquele autocarro naquela carreira. Actualmente são em acrílico). Assim que se abria a tampa saía logo de lá uma torrente de água borbulhante.
Quanto aos Daimlers, no final da sua vida alguns já estavam tão mal tratados que quando paravam nas paragens chegavam a ir abaixo (coisa incrível para um motor díesel).
Quando era mais novo, usei o 39 algumas vezes entre S.Mamede e Xabregas. Adorava descer a Barata Salgueiro sentado no banco da frente do piso de cima. Aquela rua tem uma tal inclinação que durante uns segundos deixavamos de ver estrada à nossa frente. Era uma sensação estranha, pelo menos naquela altura (quer de idade quer de estatura). Talvez se eu fosse mais alto naquela época a sensação seria outra.
Ficaram também outras coisas curiosas para trás como as paragens obrigatórias, existentes tanto para eléctricos como para autocarros no início de descidas muito inclinadas, sendo as mesmas usadas para, nos eléctricos, accionar o freio de calço ao carril (aquela grande roda que os guarda-freios se punham a rodar antes de se começar a descida) ou, nos autocarros, ser obrigatoriamente engatada a 1ª.
Mesmo nos "novos", nos Volvos, havia coisas de que pouca gente se lembra, mas que eu ainda me lembro. Quem se lembra do cobrador nesses autocarros? Tinha direito a lugar sentado, no banco que ficava por cima da roda dianteira direita, virado para a coxia. Até tinha uma pequena "bancada" onde guardava os bilhetes e o dinheiro. Mais tarde, com a automatização das cobranças, essa bancada desapareceu e aquele banco passou a ser mais um lugar sentado para os passageiros.
Coisas de quando era (mais) novo...
Na altura respondi que os AECs de cabine à frente andaram na minha zona em serviço regular na carreira 39 até Dezembro de 1987, tinha eu 15 anos. Nessa altura, quando a carreira 39 foi automatizada, foram substituídos pelos Daimler, ainda de 2 pisos, mas com um desenho e construção mais modernos, com motor atrás, o que permitia o aumento da altura útil dos autocarros, já que deixava de haver veio de transmissão a percorrer quase todo o autocarro até ao eixo traseiro. Estes andaram em serviço regular na 39 até 1993 ou 1994. Tanto uns como outros ainda circularam mais uns tempos depois de sairem do serviço regular como reforço de algumas carreiras às horas de ponta.
Quando andava na universidade e vinha das aulas, já o 39 ia apenas até aos Restauradores, os autocarros que estavam geralmente "à minha espera" no terminal eram o 837 e o 838. Foi para mim uma emoção quando, da primeira vez que visitei o Museu da Carris, revi o 837. Aquele era um dos "meus" autocarros! Subi logo para o autocarro (apercebendo-me imediatamente daquele estribo partido) e fui para o piso de cima, segundo banco a contar da escada, do lado do motorista. Era esse o "meu" lugar.
Durante os quase 3 anos que estes autocarros fizeram o percurso entre Marvila e os Restauradores existiu um tronco de uma árvore no primeiro acesso entre a faixa lateral e a central da Avenida da Liberdade onde os autocarros invertiam para voltar a Marvila e que ficava, invariavelmente, no caminho dos autocarros. De tal forma a pancada era forte que a maioria dos autocarros que andavam na 39 tinham o tejadilho do lado direito algo amarrotado. Era engraçado quando entravam não-habitués no 39 e iam logo para os lugares da frente do piso de cima. Quando o autocarro dava a cacetada no tal tronco encolhiam-se todos e numa ocasião chegaram a sair daquele lugar e foram mais para trás! Aquele tronco acabou por ser cortado para facilitar a curva aos autocarros poucas semanas antes deles serem substituídos pelos Volvos B59s (os "laranjas").
Andar naqueles autocarros era giro. As últimas viagens do 39 antes da recolha eram uma festa, com o autocarro a percorrer a mal empedrada Infante Dom Henrique pela faixa da esquerda a ultrapassar tudo e todos. Quem viajava lá em cima mesmo sentado tinha que se agarrar bem! Depois havia as curvas de Xabregas para entrar e sair da Rua da Manutenção. Nunca "peguei" num autocarro daqueles, mas pelo esforço demonstrado pelos motoristas para virarem a direcção naquelas curvas via-se que ela não era nada leve. Para compensar tinham uma caixa semi-automática muito útil nas reduções quando era para "travar a sério"!
No Verão os AECs tinham sempre o problema de aquecimento do motor. Em todos os pontos onde havia expedidores da Carris lá havia o famoso "regador" de folha em cor verde para meter água naqueles sequiosos motores. Para abrir a tampa muitas vezes era usada a chapa do autocarro (aquela plaquinha de madeira que tinha o número da carreira seguido do número daquele autocarro naquela carreira. Actualmente são em acrílico). Assim que se abria a tampa saía logo de lá uma torrente de água borbulhante.
Quanto aos Daimlers, no final da sua vida alguns já estavam tão mal tratados que quando paravam nas paragens chegavam a ir abaixo (coisa incrível para um motor díesel).
Quando era mais novo, usei o 39 algumas vezes entre S.Mamede e Xabregas. Adorava descer a Barata Salgueiro sentado no banco da frente do piso de cima. Aquela rua tem uma tal inclinação que durante uns segundos deixavamos de ver estrada à nossa frente. Era uma sensação estranha, pelo menos naquela altura (quer de idade quer de estatura). Talvez se eu fosse mais alto naquela época a sensação seria outra.
Ficaram também outras coisas curiosas para trás como as paragens obrigatórias, existentes tanto para eléctricos como para autocarros no início de descidas muito inclinadas, sendo as mesmas usadas para, nos eléctricos, accionar o freio de calço ao carril (aquela grande roda que os guarda-freios se punham a rodar antes de se começar a descida) ou, nos autocarros, ser obrigatoriamente engatada a 1ª.
Mesmo nos "novos", nos Volvos, havia coisas de que pouca gente se lembra, mas que eu ainda me lembro. Quem se lembra do cobrador nesses autocarros? Tinha direito a lugar sentado, no banco que ficava por cima da roda dianteira direita, virado para a coxia. Até tinha uma pequena "bancada" onde guardava os bilhetes e o dinheiro. Mais tarde, com a automatização das cobranças, essa bancada desapareceu e aquele banco passou a ser mais um lugar sentado para os passageiros.
Coisas de quando era (mais) novo...
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