Na década de 1980 e início da seguinte, toda a zona a que actualmente se dá o nome de Chelas era considerada como um gueto dentro de Lisboa, tal era a falta de ligações entre aquela enorme zona e o resto da cidade.
Basicamente podia-se entrar e sair de Chelas (refiro-me à parte nova, não à antiga junto ao Convento de Chelas) através da Avenida Dr. Augusto Castro, da qual saiam algumas radiais de acesso aos bairros que a circundavam e do lado do rio até à Avenida Infante D. Henrique (criando-se assim um outro acesso). Esta avenida terminava em antigas azinhagas através das quais se acedia a outras zonas de Chelas, entre as quais a famosa J. Seguindo esse trajecto através da Zona J, o caminho bifurcava-se, podendo-se aceder, mais uma vez através de azinhagas, a outras duas ligações de Chelas ao resto da cidade, uma através do Vale Fundão e da ligação deste ao troço da Av. Infante D. Henrique que na altura terminava junto à estação de Braço de Prata, e a segunda através de mais azinhagas em direcção ao Bairro da Madre de Deus e daí até Xabregas, caminho que tinha um estrangulamento sobre a linha de cintura, já a chegar ao referido bairro, e por onde apenas passava um carro de cada vez (incrivelmente, esta azinhaga foi substituída no ano passado por um novo arruamento que tem o mesmo problema: largura insuficiente para o cruzamento de dois veículos).
Os transportes públicos da zona reflectiam este estado de coisas, com as carreiras de autocarros a usarem todas as quatro formas de chegar e sair de Chelas, com mais ou menos variantes dentro da zona em questão.
Para inverter este estado de coisas (e a partir de meados da década de 1990, com o impulso criado pela necessidade de criar acessos à zona oriental/Expo '98) a Câmara Municipal de Lisboa viu-se forçada a pôr em marcha alguns dos muitos projectos que vegetavam no papel há décadas. O resultado é que no final da década de 1990 e depois de muitos milhões gastos, Chelas (nova) ficou como uma das zonas com mais e melhores acessos de toda a cidade, tendo ganho várias ligações directas ao lado ocidental (Olaias, Av. EUA e Av. D. Rodrigo da Cunha), uma ligação directa entre a Av. Marechal Gomes da Costa e a zona antiga de Chelas/Xabregas e beneficiando ainda da conclusão da Av. Infante D. Henrique. Todas estas inaugurações tiveram igualmente reflexo na rede de transportes da zona, passando a haver mais ligações/opções por autocarro que antes, facto ainda reforçado com a inauguração da primeira linha de metro construída de raíz depois da inauguração deste meio de transporte.
Depois desta introdução histórico-urbanística lanço uma questão: tendo a Câmara Municipal de Lisboa gasto milhões em abrir acessibilidades em Chelas para acabar com o gueto (era a palavra que se usava oficiosamente na altura), por que motivo gasta actualmente tantos milhões em obras para fazer exactamente o contrário na zona histórica da cidade?
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