Com 23 meses, o 25 de Abril passou-me completamente ao lado.
Só sei o que me contaram. O telefonema de um entusiasmado colega do meu pai, manhã cedo, com o conselho de "não saiam de casa", seguido de muitos mais telefonemas para familiares e amigos a repetir o mesmo.
Do resto desse dia só sei o que todos sabemos.
Ficam também as histórias dos dias e meses imediatamente a seguir, como a de um taxista que uns dias depois felicitou a minha mãe, grávida da minha irmã, por "o seu filho já" ir "nascer em Liberdade".
Mas de muitos sobressaltos se fez a nossa Liberdade. A minha mãe foi apanhada num desses sustos, quando ia comigo e a minha irmã, entretanto já nascida para a vacinação a 11 de Março do ano seguinte quando, de repente, começa um vai-e-vem de aviões militares pelos céus de Lisboa. Só posso imaginar a aflição dela, a tentar chegar a casa no meio de toda aquela confusão.
O 25 de Abril e tudo o mais que se lhe seguiu pode-me ter passado ao lado, mas não me passou ao lado esta alegria e este privilégio que é o de poder pensar, ler, ouvir e falar sem medo.
Que viva o 25 de Abril por muitos e longos anos!
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