quarta-feira, 15 de abril de 2009

Já lá vão 20 anos

Parece que não, mas é verdade. Já passaram 20 anos desde que eu participei nas primeiras manifestações contra a Prova Geral de Acesso (PGA).
Esta "coisa" foi posta em prática pela primeira vez no ano lectivo 1988/89 e a ela tinham que se sujeitar todos os estudantes que pretendessem concorrer à universidade. Nasceu no contexto de uma reforma do sistema de ensino, reforma que se tinha iniciado cerca de 13 ou 14 anos antes, no período do pós-25 de Abril e que ainda não concluiu. O seu mentor foi o então ministro da educação, Roberto Carneiro, cujo nome levou a uma das maiores proezas da engenharia genética, mas muito pouco divulgada, ao ser transformado em boi durante essas manifs. Até hoje não vi acontecer isso a mais nenhum carneiro!
A PGA era uma coisa que, teoricamente, media o grau de maturidade dos estudantes do secundário que queriam seguir os estudos, sendo para isso "medida" a cultura geral dos mesmos. Se esses estudantes sabiam ou não matemática ou outras disciplinas isso era, aparentemente, secundário e facilmente ultrapassado pela maturidade dos mesmos.
Quando chegou a minha vez de fazer esta prova, no ano lectivo de 1989/90, ela ainda funcionava nos seus moldes originais com uma primeira parte composta por um texto e perguntas relacionadas com esse texto (curiosamente todas iguais umas às outras, mas escritas de maneira diferente). Seguia-se uma segunda parte que consistia numa redacção que tinha como tema um dos 4 ou 5 dados a escolher. Mais tarde este modelo foi alterado e quando a minha irmã fez esta coisa, já as perguntas eram de escolha múltipla e não escritas, o que para mim ainda me deixava mais dúvidas quanto à validade da "medição de maturidade" daquele teste.
Passados uns meses vieram as pautas com as notas, pautas essas que deviam ser um novo teste às nossas faculdades mentais ou talvez a tentativa de implementação de um novo paradigma na algoritmia de ordenação de listas, pois as mesmas eram ordenadas não pelo nome, nem pelo número de aluno, nem tão pouco pelo do bilhete de identidade, mas "simplesmente" pela nota obtida (ficando os melhores classificados colocados à cabeça da lista)!
A aberração da PGA ainda durou 4 anos lectivos, tendo terminado no ano lectivo de 1991/92, altura em que a contestação voltou a subir de tom devido a, senão me falha a memória, erros no próprio enunciado da prova. Desde então os candidatos à universidade deixaram de ser admitidos pela sua demonstrada maturidade e não consta que daí tenha vindo grande mal ao país.
O ministro que a implementou e os que se seguiram e defenderam esta prova não voltaram a ocupar cargos políticos (oh que pena!) e também não deixaram saudades, tal como todos os outros ministros da educação.
Para mim ficou apenas a memória daquele dia de prova, em que, como sempre, me despachei depressa e passei boa parte do tempo a olhar para a janela, vendo o avião de uma qualquer individualidade que por aqueles dias visitava o país e respectiva escolta de caças a sobrevoar a cidade, e também daquelas primeiras manifestações contra a PGA, no já longíquo ano de 1989, com o seu famoso slogan:
Carneiro é,
Carneiro foi,
Carneiro é,
Carneiro é
Um "granda" boi!

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