sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Linha do Poço do Bispo - 20 anos depois

18 de Novembro de 1991.
Há precisamente 20 anos fechava oficialmente a linha de eléctricos da Carris para o Poço do Bispo.
Na prática, o último eléctrico que circulou até à Praça David Leandro Silva fê-lo na véspera, no dia 17 de Novembro de 1991, um Domingo, na carreira 3, na viagem que saíu do Arco do Cego às 21:30. Por uma coincidência notável era precisamente o dia em que a linha completava o seu 90º aniversário!
Eléctrico 247 em serviço na carreira 3, no dia 16 de Junho de 1986, à entrada da Praça David Leandro Silva. À época, o mais habitual nesta carreira eram os grandes salões da série 300 e, mais raramente, carros da série 800.
Foto de Hans-Joachim Ströh
Na sexta-feira anterior, dia 15, tinham ficado no carbarn os carros da 16, carreira que à época já só circulava aos dias de semana e apenas entre a Rocha [de Conde de Óbidos] ("provisoriamente") e o Poço do Bispo, numa pálida imagem do que tinha sido a carreira até 4 anos antes, quando, na sua máxima extensão, percorria quase toda a linha marginal do Poço do Bispo a Algés, deixando de fora apenas o troço daí até à Cruz Quebrada, feudo do eléctrico 15. Entre 1987 e o encurtamente à Rocha, teve terminal em Belém.
Praça David Leandro Silva, 16 de Junho de 1986. Em meados da década de 1980 a carreira 16 era quase exclusivamente servida por composições de eléctrico+atrelado (aqui o eléctrico 291 com o atrelado 145). Por vezes apareciam também salões e até carros ligeiros. A partir de 1988, altura em que foi automatizada, a oferta de lugares nesta carreira diminuiu bastante, passando a ser feita apenas por carros ligeiros.
Foto de Hans-Joachim Ströh
Cerca de 15 meses antes, a 20 de Agosto de 1990, tinha sido a vez da terceira (e mais recente) carreira do Poço do Bispo ficar pelo caminho, o 27, que ligava a Campolide, através do Alto de São João e das Avenidas, que já foram, Novas.
Eléctrico 293 na carreira 27 à chegada ao Poço do Bispo em 16 de Junho de 1986, já em regime de agente único. A carreira 27 foi a primeira da rede a ser automatizada, em Dezembro de 1984.
Foto de Hans-Joachim Ströh

Tal como tinha acontecido com o 27, também o fim das outras duas carreiras me passou completamente ao lado, só me tendo apercebido de tal quando naquela segunda-feira, 18 de Novembro, me dirigi à Praça da Figueira para apanhar o eléctrico 3 e surpreendentemente surgiu um autocarro Volvo com a bandeira "105 -  P.BISPO"!
Entrei no autocarro e rapidamente procurei nos placards dos avisos informação sobre o que se passava. Encontrei logo o que pretendia e lá estava, escrito em letras bem vísiveis, que a minha linha de eléctricos acabava, sendo as carreiras que ainda por lá circulavam substituídas pelos autocarros 104 e 105.
Eléctrico 785 em serviço na carreira 24, na Rua Nélson de Barros, troço final da linha da Avenida Afonso III, junto à Madre de Deus. Ostentava uma bandeira de destino algo "exótica" para uma carreira da estação do Arco do Cego. 10 de Setembro de 1990.
Foto de Christian Wenger
Ficava assim desactivado o troço de cerca de 2,5 Kms entre a Madre de Deus e o Poço do Bispo. Em funcionamento mantinha-se o troço entre a Rua da Alfândega e a Madre de Deus, seguindo depois pela Avenida Afonso III até ao Alto de São João, o qual era na altura "ocupado" pela nova carreira 23 (Rua da Alfândega-Praça do Chile), carreira resultante da divisão, já em 1991, da carreira 24 (Rua da Alfândega-Carmo) em duas (esta 23 e um 24 encurtado, que circulava entre o Carmo e o Alto de São João). Esta nova carreira 23 pouco mais tempo durou, tendo terminado no início de Outubro do ano seguinte, data em que ficou encerrada definitivamente toda a linha marginal oriental, exceptuando o troço entre a Praça do Comércio e terminal da Rua da Alfândega, alterado nessa época para servir os carros vindos do lado da Praça do Comércio e não de Santa Apolónia.
Eléctrico 238 em serviço na carreira 3, na Rua da Alfândega, no último troço da marginal oriental a ser encerrado. Foto obtida no dia 13 de Setembro de 1991, a pouco mais de dois meses desta carreira ser suprimida.
Foto de Christian Wenger
Das carreiras de autocarros nascidas nesse dia, a 104, fruto da renumeração e prolongamento da carreira 13A de autocarros, substítuia o 16 entre Santos e Xabregas, virando depois para a Rua Gualdim Pais em direcção a Chelas, por artérias por onde nunca tinham passado eléctricos, tal como fazia anteriormente o 13A.
Já o 105, nascido de raíz, substituía o eléctrico 3 entre o Martim Moniz e o Poço do Bispo. De fora ficava  o troço entre o Martim Moniz e o Arco do Cego, já servido pela carreira 40 de autocarros e o serviço de fins-de-semana e feríados, já que o 105 circulava apenas aos dias úteis.
As coisas funcionaram assim durante cerca de 8 anos, com alterações menores de percurso no caso do 105 e com prolongamentos para novas zonas de Chelas no caso do 104.
Em 1999 a carreira 105 fundiu-se com a 25A, criando-se assim uma nova carreira 105, já a funcionar durante toda a semana e entre o (já) histórico terminal do Martim Moniz (excepto aos fins-de-semana e feriados, altura em que terminava na Praça do Comércio) e a Quinta do Morgado (Encarnação).
As coisas mantiveram-se estáveis por mais 7 anos, até Setembro de 2006, altura em que entra em cena a primeira fase da Rede 7 a qual, por motivos bastante controversos e ainda hoje mal explicados, terminou com a carreira 105, deixando de existir, pela primeira vez em mais de 100 anos, ligação entre o Poço do Bispo e a Baixa pelo interior do Beato.
Ao longo do antigo percurso da linha surgem, por vezes, surpresas interessantes, como este poste que ficou esquecido no Largo do Chafariz de Dentro e que acabou por ser adoptado pelo estabelecimento ali existente como suporte dos holofotes de iluminação da esplanada. Ainda ostenta o número de série de forma bem vísivel: 1278
(Outubro de 2011)
Daquela que foi outrora a linha marginal oriental, actualmente apenas restam em funcionamento algumas centenas de metros na Rua da Alfândega, troço usado por duas carreiras "estrangeiras" à linha, a 18 e a 25.
As agulhas do antigo terminal da Rua da Alfândega, tal como se
encontram na actualidade.
A de entrada, à esquerda, com um carril do terminal actual em primeiro plano
a cruzar o antigo traçado e a de saída (à direita)
(Outubro de 2011)
Dos restantes 5 Kms ficaram muitos olhais presos nas fachadas de dezenas de prédios e alguns carris à vista no resto da Rua da Alfândega e no Campo das Cebolas. Daí para a frente, e apenas até Santa Apolónia, mantiveram-se praticamente todos os carris, embora cobertos por asfalto tendo todo o resto da linha sido levantado desde a Rua dos Caminhos de Ferros até à Praça David Leandro da Silva excepto uma meia dúzia de metros de carril na curva da raquete do Poço do Bispo, numa espécie de monumento póstumo a esta linha.
A Praça David Leandro da Silva, na actualidade e o que resta da raquete do Poço do Bispo, uma verdadeira armadilha para os condutores, principalmente de veículos de duas rodas
(Outubro de 2009)
Para trás ficaram as memórias e os planos nunca concretizados de levar a linha mais além, primeiro até aos Olivais (velhos), mais tarde, ainda nas décadas de 1970 e de 1980, de modernizar a linha e transformá-la numa linha de eléctricos rápidos até Moscavide.
Par de olhais na Cç. Cruz da Pedra.
O olhal superior mal se vê na sombra, o
inferior ainda ostenta parte do cabo
de sustentação e um isolador
(Setembro de 2011)
Par de olhais na Rua da Madre de Deus.
O de cima não é muito comum (mais parece
um camarão). 20 anos depois ainda se vêem
restos dos cabos de sustentação
(Setembro de 2011)

Olhais num edifício da Rua de Xabregas
O edifício onde se encontra foi objecto
de obras recentes, nas quais tudo o
que era de metal foi pintado de verde,
incluindo os olhais dos eléctricos
(Setembro de 2011)
Olhais no gaveto da Rua do Grilo com
a Alameda do Beato, de um modelo trabalhado
(será em ferro fundido?), com três ganchos de fixação.
Os cabos que ali se vêem nada têm a ver com
os eléctricos
(Outubro de 2011)
Já depois do seu encerramento e durante os estudos das acessibilidades à Exposição de 1998,  ainda se ouviram uns rumores de eventualmente se construir uma nova linha, aproveitando-se parte do antigo percurso, de forma a ligar de forma rápida o centro histórico e a Expo/Parque das Nações. Tal como nos outros casos, este foi mais um projecto que não passou do papel (isto partindo do príncipio que tenha chegado ao papel, pois nunca vi nada oficial escrito sobre o assunto).
Hoje a rede de transportes da zona está como no resto da cidade, a cativar poucos clientes e com as ruas onde antes passavam os eléctricos completamente atravancadas de automóveis estacionados em todos os recantos existentes.
Dos eléctricos resta a lembrança.
Eléctrico 227 na Rua de Xabregas, a 10 de Setembro de 1990, numa viagem de recolha para Santo Amaro.
Foto de Christian Wenger

ANEXOS

MAIS INFORMAÇÕES

Para quem queira saber mais sobre a História desta linha, das suas carreiras (indicadas por *) e das carreiras que a substituíram (indicadas por **) ou foram referidas neste texto....

De A minha página Carris de Luís Cruz-Filipe:
De História das Carreiras da Carris de Luís Cruz-Filipe:
Outros posts onde falo desta linha:

CURIOSIDADE
Na segunda metade da década de 1980, um grupo musical gravou um disco no Teatro Ibérico, em Xabregas, tendo todas as gravações sido feitas durante a noite e com grandes condicionamentos para evitar que o ruído da passagem dos eléctricos ficasse registado. Quais o grupo e o disco a que me refiro?

DIAGRAMAS
Para os maluquinhos, como eu, aqui ficam diagramas das zonas mais interessantes da linha (terminais e troço de via única) o mais aproximado possível da realidade (foi feito com base no que me lembro, por isso podem existir erros - e certamente que os há). Todos os diagramas tiveram por base imagens retiradas do Google Maps. Por já não serem "do meu tempo", não represento a agulha (e penso que linha de resguardo) que  existiu na Estação de Santa Apolónia, em frente ao Museu Militar e os troços de via única que existiram sob a Ponte de Xabregas (até à década de 1950) e no Beato (desconheço por completo a época em que a mesma deixou de existir. Já vi referências a cerca de 1970, mas sem confirmação). Qualquer tentativa de representação desses três pontos seria meramente especulativa.
As siglas usadas são:
  • A - Paragem de autocarro
  • AE - Paragem conjunta de autocarro e eléctrico
  • AS - Alto de São João
  • E - Paragem de eléctrico (no caso de paragens desdobradas, são indicadas as carreiras)
  • MD - Madre de Deus
  • PB - Poço do Bispo
  • PC - Praça do Comércio
  • SA - Santa Apolónia
  • X - Xabregas

Terminal da Rua da Alfândega entre 1950 e 1983
Não tenho a certeza da localização da paragem no sentido Pr. Comércio-Santa Apolónia, mas creio que era a seguir à agulha da raquete, servido, portanto, também os eléctricos que vinham da raquete. Aliás, num vídeo a que assisti recentemente na sede da APAC (Associação Portuguesa dos Amigos dos Caminhos-de-Ferro) parece ver-se naquele local um poste da Carris com as habituais faixas indicadoras de paragem lá pintadas.

Terminal da Rua da Alfândega entre 1983 e 1992
Após as obras na Casa dos Bicos motivadas pela realização da XVII Exposição de Arte Ciência e Cultura em 1983, o terminal da R. Alfândega foi completamente alterado, passando para a localização ainda actualmente em uso, mas, claro, com ligação à rede para o sentido oposto ao actual
Terminal dos C.Ferro, na Rua da Bica do Sapato
A localização quer das agulhas, quer das paragens é aproximada.
Troço de via única na rua de Santa Apolónia
A zona a sombreado não existia na época, sendo ocupada pelo depósito de água e rotunda da CP, entretanto demolidos (já depois da linha ter sido desactivada). O espaço então libertado foi usado para a construção de um edifício ocupado pela Refer e sobre o qual assenta a parte "nova" da rua.
Cruzamento da Madre de Deus
Este cruzamento, entre a Cç Cruz da Pedra (direcção SA), Rua Nélson Barros (direcção AS) e Rua da Madre de Deus (direcção X), era um prazer para os amantes de eléctricos, com 4 carreiras a cruzarem-se vindas de todas as direcções. A Cç. Cruz da Pedra era mais estreita que actualmente, existindo uma casa da Guarda Fiscal (representada com os traços a negro junto à paragem no sentido SA), entretanto já demolida. Grosso modo, a faixa de rodagem da época está actualmente ocupada pelas duas faixas de rodagem usadas pelo trânsito oriundo do lado de Santa Apolónia. As agulhas do cruzamento eram usadas como triângulo de inversão pelos carros unidireccionais, principalmente os da carreira 16, servida quase sempre por composições de eléctrico com atrelado.
Cruzamento da Madre de Deus, cerca de 1985
Por volta de 1985 efectuaram-se obras de beneficiação de esgotos neste cruzamento, as quais obrigaram ao corte da linha no sentido SA-X, afectando as carreiras 3 e 16. A solução para este problema foi, aos olhos de hoje, incrível: os carros das carreiras 3 e 16 em direcção ao P.Bispo passavam a ter paragem ainda na Cç Cruz da Pedra, entrando depois em contra-mão, através de uma agulha provisória, forma como atravessavam todo o cruzamento, voltando à faixa correcta já na Rua da Madre de Deus, depois da curva, usando para isso uma segunda agulha provisória. Para que isso fosse feito de forma segura, estavam permanentemente dois polícias a controlar o trânsito, um junto à tal casa da Guarda Fiscal e o outro junto à curva da R. Madre de Deus, em linha de vista com o primeiro. As restantes paragens também foram alteradas, sendo a dos autocarros deslocada uns metros (quase junto ao local habitual da dos eléctricos) e, se a memória não me atraiçoa, creio que a do 27 ficou na R. Nélson Barros (mas sem certeza nenhuma). De qualquer das formas as alterações efectuadas na altura encontram-se representadas a verde, incluindo as duas agulhas instaladas provisoriamente
Terminal de Xabregas
Na Rua de Xabregas situava-se aquele que tinha sido durante a década de 1950 e parte da de 1960 o terminal do 16. Era servido por um resguardo junto à paragem no sentido MD-PB, o qual foi desligado do resto da rede por volta de 1988 ou 1989. Uns metros mais à frente ficava a agulha de inversão. As paragens encontravam-se em localizações diferentes das actuais, ficando a do sentido MD-PB uns metros mais à frente da actual, já depois da curva e a paragem no outro sentido junto ao Palácio do Marquês de Olhão. Por volta de 1990 esta paragem foi alterada, passando os autocarros a parar umas dezenas de metros antes, em frente à Travessa da Manutenção onde ainda hoje se situa, ficando a dos eléctricos inalterada durante uns meses. Mais tarde foi deslocada para mais perto da dos autocarros, mas ainda afastada da mesma, ficando junto às arcadas do centro comercial, entre a paragem dos autocarros e a agulha de inversão.
Terminal do Poço do Bispo
A versão que eu conheci e que aqui apresento não era a original. Creio que inicialmente o terminal do P.Bispo não era em raquete, terminando, como muitos outros, numa via única em direcção à Rua Zófimo Pedroso (rua da esquerda no topo da imagem). Mais tarde (não sei quando) foi construída uma raquete, que não seria ainda esta, pois junto à paragem de autocarros, no sentido PB-X, existiam carris desactivados vindos directamente do passeio central (os dois traços junto à paragem perto das palmeiras). Creio que a paragem de autocarros no sentido X-PB não ficava na Praça David Leandro Silva, mas na Rua Amorim (excepto, claro, primeiro para a carreira 39, depois para a 25A, que seguiam pela Rua Fernando Palha, situada na imagem no canto superior direito). Depois de 2 décadas de mudanças a minha memória já não ajuda a esclarecer esta dúvida.
FONTES CONSULTADAS

5 comentários:

  1. Boa noite,
    Parabéns, excelente trabalho e muito bem documentado.
    Em conclusão, o eléctrico é um meio de transporte que tem vindo a perder terreno, o que é uma pena.
    tendo em conta que as duas carreiras que frequento estão quase sempre cheias;
    que é um transporte ecológico,
    que a relação do utente com o espaço e com o tempo é muito mais interessante que em qualquer outro meio de transporte; que faz parte do nosso património;
    A questão que ponho é a seguinte: em vez de suprimir carreiras, não seria mais inteligente repôr muitas das que estão aqui descritas? Adicionalmente e sabendo que é um meio de transporte muito apreciado pelos turistas, esta seria uma boa maneira de favorecer a acessibilidade e outras zonas de Lisboa.

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  2. Obrigado Cristina pelo seu comentário.
    O eléctrico tem de facto perdido terreno, mas temos que ser realistas: linhas como as que existiam (e como ainda existem) em Lisboa são coisa do passado!
    Os veículos sobre carris têm que circular sempre em faixa dedicada para que possam cumprir a sua tarefa de forma óptima e que é o que acontece em todas as cidades que ainda têm redes de eléctrico dignas desse nome.
    Pessoalmente já fui muito mais defensor dos eléctricos de Lisboa do que sou hoje, preferindo a sua substituição por autocarros em locais onde estes cumpram melhor o serviço que manter "artificialmente" uma linha de eléctrico que não é capaz de funcionar (mesmo quando a culpa não é dos eléctricos) ou que nem sequer capta clientes suficientes para justificar a sua manutenção. Aliás, olhando para a actual rede, parece-me mais que o que ainda existe é mais por motivos turísticos que por motivos de manutenção de uma rede de transportes de uma cidade como Lisboa.
    Mesmo o viajar de eléctrico já não é para mim aquele prazer que sentia antigamente. Falei disso num post que fiz em Outubro e que por lapso (este post já se encontrava quase feito) não foi aqui referido: http://iberista.blogspot.com/2011/10/gostava-de-andar-de-electrico.html
    Quanto à reposição das carreiras aqui descritas...
    O que fazia falta não seria propriamente as aqui descritas, as quais foram fruto de uma época, em que a cidade era bem diferente da actual. Assim, e falando directamente das carreiras:
    3 (Arco do Cego-Poço do Bispo, via Baixa/Almirante Reis): actualmente não vejo qualquer necessidade numa carreira com este trajecto (seja ela de eléctrico ou de autocarro);
    16 (Algés/Belém - Poço do Bispo): esta sim, seria uma carreira bem útil, desde que funcionasse em faixa própria e fosse prolongada até, pelo menos, à Estação do Oriente. Quanto ao lado ocidental dela, poderia ficar na Baixa (ou até fundir-se com o 15);
    24 (Carmo - Rua da Alfândega), mais tarde 23 (P. Chile - Rua da Alfândega): concordo que faz falta uma ligação entre a zona do Alto de São João, via Afonso III, a Santa Apolónia, para ligação ao metro. Poderia ser feita por autocarros.
    27 (Campolide - Poço do Bispo): esta ligação é actualmente feita quase na integra pela carreira 742 de autocarros e completada pela 718. Aliás, quando ela acabou, foi substituída por mais um autocarro na então carreira 18 de autocarros.

    Claro que mesmo assim tenho boas e grandes memórias destes e doutros eléctricos, mas, quem sabe, se isso não será apenas fruto da idade que eu tinha na altura em que os usei?

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  3. Raquete do Poço do Bispo - A raquete do Poço do Bispo era dupla. O "loop" exterior é como desenhou, mas havia outro loop interno que cortava o jardim ao meio, no sítio onde diz haver restos de via.
    Este pormenor permitia manobras de ultrapassagem entre os carros das diversas carreiras que faziam ali término (3-16-27).
    Em frente à Estação de Santa Apolónia no local onde hoje fica a praça de táxis também existiu um pequeno ramal de inversão, contudo em meados dos anos 70, pelo menos, já estava desactivado.

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  4. Obrigado Luís Howell pelos seus esclarecimentos.
    De facto esse loop interno já não é do meu tempo (ou se o é, eu devia ser muito novo, pois não fixei a sua existência).
    Só me lembro dessa manobra de ultrapassagem ser feita usando uma das duas linhas que existiam do lado da Abel Pereira da Fonsaca. Geralmente os eléctricos estacionavam na linha da direita (junto ao passeio) e usavam a da esquerda para ultrapassarem.
    De Santa Apolónia não me lembro de nada do que lá estava antes daquilo que existe ainda hoje (curiosamente lembro-me dos autocarros do 13 a fazerem o trajecto provisório durante as obras, via Av. Infante D. Henrique).

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  5. Parabéns! Está um trabalho notavelmente rigoroso. Ainda me lembro daqueles terminais dos Caminhos de Ferro e de Xabregas. Deste, o do "tlim-tlim Xabregas", é que tenho uma memória algo diferente, se bem percebi o seu esquema: tinha um traçado idêntico ao dos Caminhos de Ferro e os restos de ambos foram levantados juntamente com toda a restante linha, entre Santa Apolónia e o Poço do Bispo, aquando de requalificação da via, por ocasião da Expo 98.
    Já agora, uma observação: em rigor, o "adequado" para os eléctricos, nos tempos actuais, não é que corram apenas em via exclusiva, mas uma combinação das duas modalidades. Isso é adivinhável em Lisboa, sem dúvida, mas é confirmável em Viena, Praga, Budapeste... Em Berlim, por exemplo, o eléctrico (articulado mais maneirinho que os nossos) chega a sair "repentinamente" da via exclusiva, assente em cascalho, como os comboios, e entra por ruas do tipo Passos Manuel ou Dona Estefânia, em Lisboa, fazendo paragens normalíssimas, como as que cá conhecemos. A questão dos transportes públicos urbanos, mormente no que se refere a eléctricos, ocupa-me sempre a atenção quando vou a um "país civilizado" e - é triste - é também assim que discirno com lucidez como mentem com quantos dentes têm na boca quando ouço ou leio o que dizem os responsáveis em sede de pretexto para não deixar os eléctricos repor o pé (a roda) em ramo (em carril) verde.

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