domingo, 27 de julho de 2008

O elogio da loucura

Ontem à tarde o meu pai veio-me chamar porque estava a dar na RTP-N “um programa sobre a Gare do Oriente”. Como o tema me interessou logo à primeira lá liguei a televisão na RTP-N e fiquei a ver o tal programa chamado “Obra de Arte”, o que não deixa de ser curioso pois esse é um dos nomes que eu mais utilizo para designar aquela aberração do Oriente. O programa de ontem não era apenas sobre a "Obra de arte", mas sobre a Expo-98.

Quando me liguei estava a falar o Engº. António Laranjo na qualidade de antigo presidente da GIL – Gare Intermodal de Lisboa, SA.

Depois dos habituais e rasgados elogios à obra do Arquitecto Calatrava e ao próprio autor, foi-lhe colocada a questão do conforto que a estação [não] oferece aos passageiros. E a resposta deixou-me pasmado. Corroborou a ideia do Senhor Arquitecto, à qual já fiz referência aqui, de que aquilo é uma estação de passagem, e não uma estação terminal! Depois ainda há a agravante do nível a que se encontra a estação, mais elevado em relação à envolvente, em pleno viaduto, o que, para este senhor, não possibilita tais luxos! Mas mesmo assim aquela estação (OK, vou usar este termo, embora de forma inadequada) é um must, já que consegue juntar muitos meios de transporte num único local, desde os comboios ao metro, passando pelos autocarros e táxis. E ainda conseguiram fazer uma referência, como fazendo parte de todo este bolo, à ligação fluvial!

Eu fiquei siderado quando ouvi tanta barbaridade e estupidez num tão curto espaço de tempo!

Desde quando é que uma estação, por ser apenas de passagem e não terminal, implica que se descure o conforto? É curioso, mas todas as estações do eixo Norte-Sul servidas pela Fertagus são de passagem, mas conseguem ter uma cobertura que proteje os passageiros das inclemências meteorológicas.

E o facto de ser elevada não permite melhor que aquilo? Nem preciso sair de Lisboa para dar 3 (três) exemplos de estações ferroviárias elevadas e nas quais nunca vejo ninguém à chuva: Sete Rios, Entrecampos e a metropolitânica Campo Grande. Será que o Senhor Engenheiro Laranjo nunca viajou para além da Gare Intermodal de Lisboa?

E quanto às grandes admiração e excitação provocadas pelo grande interface que é a Gare Intermodal de Lisboa, será isso uma coisa assim tão original que mereça tão grande destaque e alvoroço? Lá fora há disso aos pontapés!

E é por estas e por outras que em Portugal, onde o dinheiro não abunda, se compram obras faraónicas que, como esta, são mal projectadas e completamente desfasadas da realidade e das necessidades, tudo porque quem deveria saber escolher e criticar estas coisas se limita a ficar deslumbrado com toda esta exuberância de formas e não tem a mínima sensibilidade (e, pelos vistos, no caso do Engenheiro Laranjo conhecimentos de ordem prática) para os aspectos mais prosaicos e funcionais das obras. E só vejo críticas como estas vindas de pessoas que não têm qualquer relação com o poder político (talvez porque actualmente as pessoas com alguma competência só querem é distância da política), nunca vejo ninguém que poderia ter feito alguma coisa para evitar tamanho erro a vir à praça pública pôr os pontos nos I’s em relação à GIL.

Já agora, digam lá quantas mais estações como esta, completamente aberta, o Senhor Arquitecto Calatrava fez! Se querem uma ajuda para a resposta a isto consultem este site: http://www.calatrava.com/main.htm

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