quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Como gastar dinheiro (estupidamente)


O Metropolitano de Lisboa (ML) anunciou hoje a construção de uma nova extensão da sua rede, para além das duas actualmente em construção, ambas nos dois extremos da linha vermelha, da Alameda para S.Sebastião e da Estação do Oriente para o Aeroporto (que vai fechar daqui a uns anos).
A nova extensão será o prolongamento da linha azul entre Amadora Este e a Reboleira, a qual corresponde a mais uma estação na rede e um aumento de algumas centenas de metros na extensão da mesma.
No site do ML podemos ver que na calha (ou será melhor dizer, no carril) já se encontram mais 2 extensões deste calibre, uma na linha vermelha entre S.Sebastião e Campolide e outra para a linha amarela entre o Rato e a Estrela.
Ora, numa obra onde a linha é em túnel, como é caso de boa parte da rede do ML, uma parte significativa dos custos prendem-se precisamente com os trabalhos de abertura dos poços de acesso ao subsolo por onde passam as tuneladoras e à montagem destas máquinas, pelo que, diz a minha lógica merceeirico-financeira, uma obra destas deveria ser feita sempre a pensar em longas distâncias, para minimizar estes custos por km construído. Mas não é isso que se passa. Todas estas extensõe(zinha)s têm, no máximo, cerca de 1000 metros pelo que todo o trabalho de “pôr a andar” a tuneladora não é devidamente aproveitado. É como ir de carro ao fundo da rua só para pôr o lixo (estou a partir do príncipio que a rua é uma rua normal, sem ser uma Estrada de Benfica ou uma Av. Infante D. Henrique). O que se gasta de bateria só para o motor de arranque pôr o carro a funcionar não deve chegar a ser reposto com o que é gerado no alternador durante a viagem!
Mas porque motivo há-de o ML ir gastar rios de dinheiro para andar só mais uns metros? Porque não se fizeram logo estas obras quando se abriram as linhas até onde elas chegam agora? Ainda tenho alguma esperança que no caso da extensão da linha vermelha entre S.Sebastião e Campolide se possa usar a tuneladora que abriu passagem desde a Alameda até S.Sebastião, embora não tenha certeza se nesta altura da obra a mesma ainda lá se encontre, ou se será viável manter uma máquina daquelas “presa” no solo durante tanto tempo.
E é assim que se gasta o dinheiro: para que a rede do ML vá avançando aos soluços, calmamente, sem grande alaridos.
Já agora, como será que o ML vai resolver o problema da falta de material quando abrir a extensão da linha vermelha até S.Sebastião? É que se para essa linha actualmente bastam comboios de 3 carruagens, no futuro é bem possível que isso seja insuficiente. E o material actualmente em funcionamento não chega para tanto: os tempos de intervalo entre comboios que se registam hoje em dia estão aí para provar isso.

1 comentário:

  1. Já depois de ter publicado este post vi no DN (edição de 14 de Agosto de 2008) a secretária-de-estado dos transportes, Ana Paula Vitorino, afirmar que o troço Amadora Este-Reboleira são apenas "duzentos e poucos metros de linha". No mesmo artigo Joaquim Reis, presidente da administração do ML, adianta que "cerca de 600 metros são complicados". Não sei se foi do jornalista que escreveu a peça ou se foi a senhora secretário-de-estado que meteu os pés pelas mãos, mas "200 e poucos metros de linha" não são certamente, pois para isso bastaria fazer um corredor de acesso provido de passadeiras para agilizar a "transfega" de passageiros do caminho-de-ferro para o metro e que seria, penso eu, bem mais barato que os 58 milhões apresentados. Os 200 e tal metros não serão o tamanho da estação?

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