terça-feira, 27 de junho de 2006

Era uma vez a Baixa

Por vezes lembro-me da Baixa de Lisboa de há 20, 30 anos. Da Baixa em que eu ia às compras com a minha mãe e, às vezes, com a minha avó e tia.

Era uma Baixa que, se a memória não me atraiçoa, tinha muito menos carros, mas mais autocarros e eléctricos que hoje.

Também tinha outra coisa que hoje em dia já só é uma lembrança vaga, que era a de se poder andar calmamente sem sermos importunados de 1 em 1 metro. Havia, como sempre houve e sempre haverá, pedintes, mas estes eram em menor número que hoje e não eram, pelo menos pela forma como os recordo, tão peçonhentos como os de hoje.

O tempo passou, eu cresci e a Baixa definhou.

Hoje já não há Grandellas nem Grandes Armazéns do Chiado, nem a Biagio Flora, em cuja montra eu me deliciava e sonhava a olhar para os comboios que lá se encontravam (a preços quase iguais aos de hoje, diga-se em abono da verdade).

O número de automóveis aumentou ao mesmo tempo que o de autocarros diminuiu e os eléctricos quase que se eclipsaram, em nome do “puguesso”.

Tal como já se dizia nessa altura, há quem diga que a Baixa está a morrer. Eu concordo.

Para além da mudança de hábitos e da falta de moradores, nos últimos anos a Baixa começou a apresentar algumas “células cancerígenas”. Dos mendigos e vendedores de pensos rápidos dessa época passou-se para uma miríade de pedintes, vendilhões, pseudo-inquiridores e outros elementos parasitários que em nada servem para a causa da Baixa.

Os pedintes, graças à enorme população de drogados (toxicodependentes no léxico político-correcto) e da porcaria dos romenos (Ceausescu volta que estás perdoado) aumentaram de forma incrível. Qualquer dia terão que fazer promoções e campanhas de marketing se quiserem receber alguma esmola.

Depois há os vendilhões: ciganos de 5 em 5 metros a vender óculos de sol, máquinas fotográficas (que eu não digo que são roubadas para que o SOS-Racismo não me caia em cima – já bastou a da “porcaria dos romenos”) e maconha.

E depois há o pior de tudo, a praga das pragas: os vendilhões mascarados de empresas de inquéritos. Começaram por habitar a Rua Augusta e, a pouco e pouco, foram-se espalhado pela Baixa.

Neste momento não há rua por onde se possa passar sem se ser importunado por essa gentalha inútil. Os comerciantes já se queixam, e com razão, das perdas que têm por causa desses empecilhos. Os clientes das lojas da Baixa queixam-se, e com razão, que não podem parar para ver uma montra sem levarem com um “Bom dia, está bem disposto?” ou um “Bom dia, trabalha dentro ou fora de Lisboa?”.

Quando se diz que “NÃO” por vezes tornam-se violentos e malcriados, como se nós tivessemos obrigação de os aturar.

As autoridades, como acontece em qualquer país como o nosso, que não passa de uma ópera-bufa de 20ª categoria, não fazem nada para acabar com isto, a não ser quando alguém se passa de vez e manda um gancho de direita directamente ao focinho de um desses execráveis. E vive-se assim: queremos ir à Baixa, nem que seja para passear e descontrair e saímos de lá, por vezes, ainda mais enervados do que quando chegamos. E tudo isto por causa de um bando de mafiosos com uns funcionários com trabalho de puta, parados às esquinas a abordar potenciais clientes, com a diferença que as putas abordam e se levam uma nega viram as costas e vão-se embora; estes levam a nega e não desgrudam.

Como solução para isto apresento duas hipóteses:

  1. Usar estes seres como escarradores. Dizemos-lhe “NÃO”, eles insistem e a gente limpa a garganta;
  2. Entrar no jogo deles, ir até ao escritório e ao se chegar lá partir-se aquela merda toda. Dúvido que eles chamassem a polícia.

E assim se vai matando de vez a Baixa. O golpe de misericórdia seria seguirem para a frente com aquele pseudo-projecto de retirar os ministérios da Praça do Comércio e transformá-los em hotéis “de charme” (com um nome destes parecem bordéis de luxo).

Como nota de rodapé, e em jeito de despedida: parabéns a quem teve a ideia de instalar uma esplanada nas arcadas do Teatro Nacional Dona Maria II. Não é que considere aquele local o indicado para uma esplanada, mas pelo menos “limpou-se” aquela área dos parasitas que passavam o tempo lá sentados ou deitados. Afinal de contas, aquilo é um edifício histórico e para nós, lisboetas, tem muito significado, ao contrário do que acontecia com os elementos de certas minorias étnicas que faziam daquilo sala de estar.

Acho eu.


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