terça-feira, 11 de julho de 2006

Também quero

A Federação Portuguesa de Futebol (FPF), com sede sita na Praça da Alegria, zona de Lisboa especializada na área da diversão masculina (tal como o nome indica), quer que o governo isente os jogadores da bola que foram à Alemanha do pagamento do IRS relativo aos prémios de jogo que receberam.

Para além de alegarem que essa isenção está consagrada no próprio código do IRS, através do nº 5 do artigo 13º, segundo o qual, o IRS “não incide sobre os prémios atribuídos aos praticantes de alta competição, bem como aos respectivos treinadores, por classificações relevantes obtidas em provas desportivas de elevado prestígio e nível competitivo”, a FPF afirma que a selecção contribuiu para a “divulgação e prestígio” do país!

Primeiro deixem-me expressar a minha revolta partindo alguma coisa

OK. Agora passemos a analisar toda esta história por partes.

Código do IRS: se existem estudos relativos à “simplificação do IRS” (coloco isto entre aspas porque foram essas as razões apresentadas para aquilo que a seguir vou dizer) que dizem que isso só se consegue acabando com vários benefícios fiscais, entre os quais as despesas com a educação, será que esses estudos abrangem também esta aberração? Se eu no meu emprego eu desempenhar as minhas funções tão bem que o empregador me resolve dar um bónus eu terei que pagar o IRS sobre esse prémio. Aqui é a mesma coisa

Para além do tal artigo do código do IRS, a FPF ainda alega que a selecção contribuiu para a “divulgação e prestígio” do país. É possível. Há quem só contribua para a divulgação e não para o prestígio (Durão Barroso, por exemplo), há quem contribua para o prestígio e não para a divulgação (muitos dos emigrantes que andam lá por fora). Mas, perguntou eu que nunca gostei de verdades absolutas, se o governo aceitar essa razão para isentar os jogadores da bola do pagamento de impostos, então não deveria fazer o mesmo, por exemplo, a mim? É que uma das quais que me compete fazer no meu emprego é garantir o funcionamento das bilheteiras de um sistema de venda de bilhetes para um serviço de transportes de longo curso (tanta merda só para manter o meu anonimato). Logo, ao mantê-las em funcionamento estou a dar uma boa imagem do país aos estrangeiros que nos visitam e usam esses transportes de longo curso. E com isso estou a aumentar o prestígio de Portugal. E também a divulgação do mesmo, embora indirectamente, pois os turistas que usam esses transportes de longo curso voltam para a casa a dizer: “os gajos têm umas bilheteiras que funcionam espectacularmente bem”.

Sendo assim, eu também quero.

PS (apesar de não ter assinado isto): depois de ter escrito esta resmunguice, soube que o ministério das finanças fez uma manguito a estas pretensões. É nestes raríssimos momentos em que penso que talvez ainda haja uma esperança extremamente ténue para esta anedota de país.

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